sábado, 20 de junho de 2015

A militância feminista no ciberespaço

Beyoncé


Há ainda quem acredite que ser feminista é sinônimo de ter decorado cada palavra que existe no livro O Segundo Sexo, da feminista e filósofa francesa, Simone Beauvior. No entanto, há quem discorde disto. Até porque ninguém tem obrigação de ler livros e artigos acadêmicos sobre o feminismo para se reconhecer como uma feminista. Pois, hoje, há um enorme campo de informações, que são possíveis de serem encontradas on-line.

Logo, não se faz necessário ler diversos livros sobre teorias feministas para se tornar uma feminista e então acreditar na igualdade política, social e econômica entre homens e mulheres.

Desmerecer um movimento, que graças à internet, alcança milhares de mulheres todos os dias, não é uma estratégia inteligente. Pois, os diversos sites e comunidades de militância feministas, que existem são chamadas de cibercidades que, dentro da comunicação, são a transposição das cidades reais para o ambiente virtual. Logo, os movimentos sociais que atuam no mundo virtual são tão válidos quantos os que atuam nas cidades físicas.

Para entender como funciona o processo de troca de informações e a militância na internet, é necessário entendermos alguns termos, entre eles: cibercidade, cibercultura e a interatividade.

O filósofo francês, Pierre Lévy (1999) define o termo ciberespaço não apenas como a infraestrutura material da comunicação, mas também como o universo oceânico de informação que ela abriga. Desta forma, o ciberespaço funciona como uma transposição da vida social contemporânea, que são reestruturações do mundo real para a o ambiente virtual.

A emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder (a juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem (interconexão, criação de comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes (LÉVY, 1999, p.123)

Pois, da mesma forma que há movimentos feministas nas cidades físicas, das mais variadas vertentes, no campo digital, há também blogs, comunidades e grupos de discussões feministas.

Já a cibercultura pode ser definida como características de determinados grupos dentro do ciberespaço, onde tais movimentos se agrupam conforme os interesses, que os indivíduos que o compõem possuem em comum. “Quanto ao neologismo "cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 1999, p. 11).

Para explicar a interatividade é necessário, antes de tudo, defini-la. E, de acordo com a sua definição mais simples, encontrada no dicionário Aurélio, a interatividade é a capacidade que um sistema operacional ou máquina possui de permitir interação ou até mesmo ser interagido.

Para Pierre Lévy (1999) o que melhor descreve a interatividade é a possibilidade, crescente com a evolução dos dispositivos técnicos, de transformar os envolvidos na comunicação, ao mesmo tempo, em emissores e receptores da mensagem.

Com a popularização dos computadores, notebooks e smartphones entre a sociedade, se torna possível participar da militância feminista no ambiente virtual, sejam com opiniões divergentes, com acréscimo ou até mesmo novas informações.

Nesse novo contexto, o emissor não emite mais mensagens, mas constrói um sistema com rotas de navegação e conexões. A mensagem passa a ser um programa interativo que se define pela maneira como é consultado, de modo que a mensagem se modifica pela medida em que atende às solicitações daquele que manipula o programa. (SANTAELLA, 2004, p. 163)

A interatividade nas redes é regida pelo principio de que é possível ser mutável, efêmero, colaborador e não apenas espectador, como explica Santaella (2004, p.166). Logo, o ciberfeminismo, transposto para o ambiente virtual possui o mesmo valor, que o feminismo que milita nas cidades físicas. As mulheres que militam virtualmente não são apenas espectadoras passivas, mas participam ativamente do movimento através da colaboração e compartilhamento e ideias.

Entretanto, a desigualdade social ainda é enorme no Brasil e, como consequência, mulheres majoritariamente negras, analfabetas e da periferia não têm acesso à internet. Pois, as barreiras sociais e econômicas impedem que o ciberfeminismo cheguem até elas. Logo, a importância da militância feminista na cidade física está em descentralizar o movimento da academia e ir de encontro às mulheres que não são alfabetizadas, não possuem graduações. Só possuem o desejo de serem livres.


REFERÊNCIAS
SANTAELLA, Lúcia. Navegar no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo, Paulos, 2004.
LÉVY, Pierre. Cibercultura.(Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 2009.

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