segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Entre o desespero e a vontade de pintar o cabelo



O texto de hoje é bem pessoal, pois irei listar algumas coisas que aconteceram no mês de julho e agosto. E, apesar dos dias terem passado bem rápido, aconteceu bastante coisa. Vamos lá: fui roubada, na verdade, foi um furto. Alguém com uma mão incrivelmente “leve” abriu a minha bolsa e levou a minha carteira com quase todos os meus documentos. Por sorte, não tinha dinheiro dentro. Chorei e chorei muito após me dar conta do que tinha acontecido. Me senti burra, trouxa e por aí vai...

Logo depois começou a saga para tirar as segundas vias dos documentos. Para tirar a segunda vi do RG, é necessário acordar de madrugada, pegar uma senha e aguardar sabe lá até que horas para poder ser atendida. E, na verdade, eu estava com preguiça de ter que acordar cedo para ir fazer isso, porque os R$ 30 era o de menos (apesar da falta que faria rs). Pois bem, um amigo ofereceu ajuda (e eu quase não aceitava, porque sou tapada mesmo) e consegui fazer de grátis e sem fila. Entretanto, eu tenho um sério problema com essas coisas, porque eu lembro logo de que isso é corrupção e me sinto um ser humano terrível após olhar as pessoas que madrugaram e pagaram a taxa para obterem o serviço e eu não.

Continuando a saga... Fui convidada por uma amiga/conhecida (não somos tão próximas, apesar das afinidades políticas) para fazer parte da União da Juventude Socialista (UJS), pois, segundo ela, eu contribuiria muito com a frente feminista baiana do movimento. Fiquei empolgada, li algumas coisas e estou no aguardo de alguma reunião para entender como funciona. Logo depois fui convidada para participar da II Conferência Municipal da Juventude de Ilhéus. Irei mediar um eixo sobre direito à cultura, à comunicação e à liberdade expressão. Nunca mediei nada, mas estou empolgada e espero que a discussão gere bons frutos para a juventude ilheense.


Por fim, meu notebook pifou, morreu, foi dessa para uma melhor de vez. Tenho um TCC para iniciar, quer dizer, continuar. Pois comecei faz um tempo. E estou tentando controlar minha preocupação e ansiedade, por isso resolvi pintar o cabelo. Já escolhi a cor e vai ser roxo. Não vou pintar o cabelo todo, pois, infelizmente, existe preconceito e eu ainda preciso ter um estágio/emprego e dinheiro. De qualquer forma, cachinhos coloridos, me aguardem!

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Sobre pais e filhas e o gaslighting


O gaslighting, traduzido para o português, significa uma forma de abuso psicológico onde as informações são distorcidas e seletivamente omitidas, alteradas ou até mesmo inventadas, visando sempre o favorecimento do abusador. Desta forma, a vítima passa a duvidar de sua própria memória e sanidade. Resumindo: é quando alguém te chama de louca ou louco sem nenhum motivo para isso.

Tal abuso é bastante comum em relações amorosas, onde homens héteros cisgêneros enquanto ficantes, namorados e maridos manipulam a situação para que sempre tenham razão e a mulher seja a louca, desequilibrada e que vê coisas que sequer existem. Entretanto, o gaslighting, como outros abusos, pode acontecer em diversos tipos de relações, entre elas a de pai e filha. Assim, não é apenas o seu parceiro romântico que pode lhe acusar de louca, mas até mesmo o seu pai. A diferença é que a figura paterna pode fazer com que o abuso passe despercebido, por ser tratado como “coisas que os pais fazem”. E assim, o gaslighting passa a ser naturalizado e nunca questionado.

Na maioria das vezes, o pai abusador, quando casado, costuma também agredir a esposa. A chama de louca, exagerada e desequilibrada. Às vezes inventa histórias, inverte situações e chega realmente a confundir a companheira. A filha, também mulher, não passa imune aos abusos. Caso questione qualquer ação do pai, é considerada exagerada. Provando assim, que o gaslighting não é exclusividade de relacionamentos românticos. Mas pode estar presente em relações parentais e ser tão cruel quanto num namoro ou casamento.

Entretanto, por se tratar de um pai, questionar o abuso psicológico se torna algo praticamente inviável, já que vivemos numa sociedade machista, onde uma mulher que questiona não é levada a sério. E, na maioria das vezes, seu questionamento é menosprezado por conta do seu gênero. Embora questionar um abuso psicológico dentro do ambiente familiar seja algo praticamente impossível, não absorvê-lo é um caminho para que não haja sequelas no futuro. Basta lembrar-se de que você não é louca por estar chateada, apaixonada ou com vontade chorar. Pois, todos nós somos seres humanos, logo possuímos sentimentos e nossas emoções nem sempre podem ser controladas.


Caso você passe por este tipo de abuso e não tenha como buscar ajudar psicológica, procure um grupo de apóio feminista pelo Facebook e transforme a sua indignação em luta e milite, nem que seja virtualmente, e ajude a mudarmos o nosso futuro e de outras garotas. Porque nós, mulheres, apesar de sermos ensinadas de que os sentimentos, quando demonstrados, são coisas “de mulherzinha”, hoje aprendemos que, na verdade, são coisas normais de todo e qualquer ser humano.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O sentimento de impotência e a resistência na militância feminista


Ultimamente tenho lido várias matérias sobre feminicídios, sobre mulheres que sofreram agressões de seus parceiros ou foram estupradas. E o medo só aumenta. E junto com o medo o sentimento de revolta também. Mas o sentimento de impotência é o que mais de inquieta, me incomoda e me tira a paz.

A sensação de impotência quando me deparo com notícias em que mulheres foram brutalmente agredidas, violentadas ou mortas. Sinto-me impotente, pois eu sei que apesar de toda a minha militância e vontade de mudar o mundo, eu não pude evitar que mais uma mulher entrasse para a estatística. Números que só aumentam, porque todo dia uma mulher morre por causa do machismo. Todo dia uma mulher é agredida, violentada e estuprada por causa da misoginia. Todo dia eu tenho medo de ser agredida, violentada ou estuprada. E sinto-me mais impotente a cada dia que passa.

Ao ler matérias sobre mulheres que tiveram mãos e pés decepados por seus companheiros, que foram queimadas e mortas com requintes de crueldade, só consigo compreender o quanto o feminismo se faz necessário no século 21, em pleno ano de 2015. Pois ainda não alcançamos a tão sonhada equidade entre os gêneros. E, por isso, apesar de todo o sentimento de impotência que eu sinto, não desisto do feminismo. Porque ainda acredito que, através do movimento, conseguiremos as mudanças necessárias para que, talvez, no futuro vivamos com respeito à igualdade de direitos.


Quando alcançarmos tal igualdade, será possível não presenciarmos cenas de abuso, de machismo, de misoginia. Não assistiremos à programas policiais que julgam a mulher estuprada e relativiza o crime de estupro. Não leremos matérias que se preocupam mais em saber se a vítima perdoou o criminoso que lhe arrancou as mãos e os pés com golpes de facão. Talvez, um dia, tudo isso mude. E, caso não mude, ainda assim continuarei lutando para que a mudança aconteça.