quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Sobre pais e filhas e o gaslighting


O gaslighting, traduzido para o português, significa uma forma de abuso psicológico onde as informações são distorcidas e seletivamente omitidas, alteradas ou até mesmo inventadas, visando sempre o favorecimento do abusador. Desta forma, a vítima passa a duvidar de sua própria memória e sanidade. Resumindo: é quando alguém te chama de louca ou louco sem nenhum motivo para isso.

Tal abuso é bastante comum em relações amorosas, onde homens héteros cisgêneros enquanto ficantes, namorados e maridos manipulam a situação para que sempre tenham razão e a mulher seja a louca, desequilibrada e que vê coisas que sequer existem. Entretanto, o gaslighting, como outros abusos, pode acontecer em diversos tipos de relações, entre elas a de pai e filha. Assim, não é apenas o seu parceiro romântico que pode lhe acusar de louca, mas até mesmo o seu pai. A diferença é que a figura paterna pode fazer com que o abuso passe despercebido, por ser tratado como “coisas que os pais fazem”. E assim, o gaslighting passa a ser naturalizado e nunca questionado.

Na maioria das vezes, o pai abusador, quando casado, costuma também agredir a esposa. A chama de louca, exagerada e desequilibrada. Às vezes inventa histórias, inverte situações e chega realmente a confundir a companheira. A filha, também mulher, não passa imune aos abusos. Caso questione qualquer ação do pai, é considerada exagerada. Provando assim, que o gaslighting não é exclusividade de relacionamentos românticos. Mas pode estar presente em relações parentais e ser tão cruel quanto num namoro ou casamento.

Entretanto, por se tratar de um pai, questionar o abuso psicológico se torna algo praticamente inviável, já que vivemos numa sociedade machista, onde uma mulher que questiona não é levada a sério. E, na maioria das vezes, seu questionamento é menosprezado por conta do seu gênero. Embora questionar um abuso psicológico dentro do ambiente familiar seja algo praticamente impossível, não absorvê-lo é um caminho para que não haja sequelas no futuro. Basta lembrar-se de que você não é louca por estar chateada, apaixonada ou com vontade chorar. Pois, todos nós somos seres humanos, logo possuímos sentimentos e nossas emoções nem sempre podem ser controladas.


Caso você passe por este tipo de abuso e não tenha como buscar ajudar psicológica, procure um grupo de apóio feminista pelo Facebook e transforme a sua indignação em luta e milite, nem que seja virtualmente, e ajude a mudarmos o nosso futuro e de outras garotas. Porque nós, mulheres, apesar de sermos ensinadas de que os sentimentos, quando demonstrados, são coisas “de mulherzinha”, hoje aprendemos que, na verdade, são coisas normais de todo e qualquer ser humano.

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