segunda-feira, 29 de junho de 2015

O casamento civil igualitário e o falso moralismo cristão brasileiro



Na última sexta-feira, dia 26, a Suprema Corte dos EUA aprovou o casamento civil igualitário (por favor, não é casamento gay, ok?) em todos os 50 estados americanos. A decisão foi inédita e entrou para a história. E, claro, eu fiquei alegre junto.

Mas, tinha que existir os cristãos fundamentalistas e homofóbicos para tentar – sim, tentar, pois não conseguiram êxito – acabar com a alegria alheia e pregar o cristianismo para quem não pediu. Quando eles irão entender, que a opinião deles não interessa? Não quer casar com uma pessoa do mesmo sexo? Não case! É tão simples.

Agora farei algumas considerações sobre o versículo de Levítico que num instante foi lembrado por muitos amigos e amigas que estão adicionados em meu perfil no Facebook. Vejamos: "Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher; é repugnante”, capítulo 18, versículo 22 do livro de Levítico.

Não vou discorrer sobre ser pecado ou não, porque ando cansada disso. Mas, colocarei outros versículos do mesmo capítulo só para deixar explícito o falso moralismo de quem reclama dizendo que é pecado. Vamos lá, versículos 19 e 20: "Não se aproxime de uma mulher para se envolver sexualmente com ela quando ela estiver na impureza da sua menstruação. Não se deite com a mulher do seu próximo, contaminando-se com ela”.

Preciso comentar algo sobre? Não ter contato sexual com mulher menstruada em pleno século XXI? Whaaat? E sobre a traição, com tantos escândalos envolvendo padres, pastores casados e mulheres casadas, melhor poupar comentários. Pois daria um livro se eu fosse discorrer sobre cada caso.


Então, se for para seguir Levítico, por favor, siga o livro todo. Esse negócio de segmentar os mandamentos ao bel prazer não está mais convencendo. Contexto histórico existe e deve ser levado em consideração.

terça-feira, 23 de junho de 2015

E a transfobia fez mais uma vítima

Laura Vermont

Outra travesti morreu. Foi morta pela transfobia que assola a sociedade hipócrita brasileira. Morta pela intolerância. Morta por todos nós que julgamos de “diferentes” os que são iguais a nós. Laura Vermont foi morta por policiais militares, que deveriam lhe prestar socorro e proteção. Arrancaram-lhe o direito de ser quem ela era.

É impossível não me indignar com essas situações, infelizmente corriqueiras, mas que a justiça e os políticos fingem não existir. Mais uma vida foi tirada de forma covarde e violenta. Nada justificará os murros, chutes e tiros disparados contra Laura num momento em que ela precisava de proteção.

Laura foi espancada por um grupo de homens, que provavelmente, acharam que poderiam exterminá-la da face da terra e contribuir, assim, para um mundo melhor. Os PMs, segundo o Portal R7, foram chamados para protegê-la e só a espancaram mais e dispararam tiros contra ela. Depois, como se não fosse o suficiente, mentiram descaradamente sobre o fato quando se apresentaram à Polícia Civil.


O que mais me incomoda e me revolta é, que contra essas atrocidades, os líderes religiosos não se revoltam. Campanhas pedindo o fim da violência contra travestis não são sugeridas no Facebook. Sentem-se incomodados com a imagem de um travesti numa cruz representando o sofrimento que elas passam todos os dias, mas a morte cruel de uma travesti não comove. Não incomoda. Torna-se estatística ou não.

domingo, 21 de junho de 2015

Os Filhos da Mata – A Luta da Reserva Pataxó da Jaqueira

Os Filhos da Mata - A Luta da Reserva Pataxó da Jaqueira


Na última sexta-feira, 19, tive a oportunidade de assistir ao documentário “Konehop Upu Ibá (Os Filhos da Mata) – A Luta da Reserva Pataxó da Jaqueira”, produzido pelo coletivo En Cleta Vamos, formado por quatro amigos latino-americanos, que viajam pelo Brasil de bicicleta exibindo filmes relacionados a nossa cultura.


O documentário retrata a luta dos índios Pataxós, que vivem na Reserva da Jaqueira, localizada a 13 km de Porto Seguro. Mais 30 famílias Pataxós vivem dentro da reserva, que escolheram para preservar a cultura indígena viva e cuidar dos 827 hectares de Mata Atlântica do local.


Através de entrevistas com diversos índios, o filme aborda as causas e as consequências do massacre que ocorreu ano 1951, quando os índios lutaram por suas terras e foram mortos de formas cruéis. Além de exporem o processo burocrático de homologação e demarcação do território indígena, e a criação da escola indígena dentro da aldeia, que busca preservar o idioma e os costumes dos Pataxós.

As tradições e costumes dos índios são contados através dos olhares de diversos índios, desde crianças até os mais idosos, onde cada um expõe a beleza em ser índio Pataxó e a importância em se preservar a sua cultura.

O documentário enfatiza também a importância das mulheres na construção da história da comunidade indígena na Reserva da Jaqueira, pois há diversas mulheres líderes e que possuem direitos e deveres iguais aos homens indígenas. Assim, mostrando a existência da igualdade entre os gêneros dentro da reserva.


Outro aspecto importante, que também é retratado no documentário, é o racismo contra índios e o preconceito contra a cultura indígena, que mata e machuca até hoje. Pode ser em menor quantidade do que quando o Brasil foi “descoberto”. No entanto, a dor e as cicatrizes são tão cruéis quanto as de mais de 500 anos atrás.


O filme aborda também como o etnoturismo surgiu na comunidade, através da necessidade de se mostrar às pessoas a cultura indígena e também como opção de geração de emprego e renda dentro da reserva. O etnoturismo dentro da Reserva da Jaqueira consiste em mostrar aos homens e mulheres “civilizados” a cultura indígena, suas tradições, costumes e rituais.

Por fim, o documentário é lindo. Assistir ao filme foi um choque de realidade, pois pude perceber que os índios sofreram e ainda sofrem com problemas que sequer deveriam existir. A história do Brasil começa com um descobrimento que nunca existiu, para dessa forma, tornar legítimo o roubo das terras indígenas pelos portugueses e outros imigrantes.

sábado, 20 de junho de 2015

A militância feminista no ciberespaço

Beyoncé


Há ainda quem acredite que ser feminista é sinônimo de ter decorado cada palavra que existe no livro O Segundo Sexo, da feminista e filósofa francesa, Simone Beauvior. No entanto, há quem discorde disto. Até porque ninguém tem obrigação de ler livros e artigos acadêmicos sobre o feminismo para se reconhecer como uma feminista. Pois, hoje, há um enorme campo de informações, que são possíveis de serem encontradas on-line.

Logo, não se faz necessário ler diversos livros sobre teorias feministas para se tornar uma feminista e então acreditar na igualdade política, social e econômica entre homens e mulheres.

Desmerecer um movimento, que graças à internet, alcança milhares de mulheres todos os dias, não é uma estratégia inteligente. Pois, os diversos sites e comunidades de militância feministas, que existem são chamadas de cibercidades que, dentro da comunicação, são a transposição das cidades reais para o ambiente virtual. Logo, os movimentos sociais que atuam no mundo virtual são tão válidos quantos os que atuam nas cidades físicas.

Para entender como funciona o processo de troca de informações e a militância na internet, é necessário entendermos alguns termos, entre eles: cibercidade, cibercultura e a interatividade.

O filósofo francês, Pierre Lévy (1999) define o termo ciberespaço não apenas como a infraestrutura material da comunicação, mas também como o universo oceânico de informação que ela abriga. Desta forma, o ciberespaço funciona como uma transposição da vida social contemporânea, que são reestruturações do mundo real para a o ambiente virtual.

A emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder (a juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem (interconexão, criação de comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas aspirações coerentes (LÉVY, 1999, p.123)

Pois, da mesma forma que há movimentos feministas nas cidades físicas, das mais variadas vertentes, no campo digital, há também blogs, comunidades e grupos de discussões feministas.

Já a cibercultura pode ser definida como características de determinados grupos dentro do ciberespaço, onde tais movimentos se agrupam conforme os interesses, que os indivíduos que o compõem possuem em comum. “Quanto ao neologismo "cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 1999, p. 11).

Para explicar a interatividade é necessário, antes de tudo, defini-la. E, de acordo com a sua definição mais simples, encontrada no dicionário Aurélio, a interatividade é a capacidade que um sistema operacional ou máquina possui de permitir interação ou até mesmo ser interagido.

Para Pierre Lévy (1999) o que melhor descreve a interatividade é a possibilidade, crescente com a evolução dos dispositivos técnicos, de transformar os envolvidos na comunicação, ao mesmo tempo, em emissores e receptores da mensagem.

Com a popularização dos computadores, notebooks e smartphones entre a sociedade, se torna possível participar da militância feminista no ambiente virtual, sejam com opiniões divergentes, com acréscimo ou até mesmo novas informações.

Nesse novo contexto, o emissor não emite mais mensagens, mas constrói um sistema com rotas de navegação e conexões. A mensagem passa a ser um programa interativo que se define pela maneira como é consultado, de modo que a mensagem se modifica pela medida em que atende às solicitações daquele que manipula o programa. (SANTAELLA, 2004, p. 163)

A interatividade nas redes é regida pelo principio de que é possível ser mutável, efêmero, colaborador e não apenas espectador, como explica Santaella (2004, p.166). Logo, o ciberfeminismo, transposto para o ambiente virtual possui o mesmo valor, que o feminismo que milita nas cidades físicas. As mulheres que militam virtualmente não são apenas espectadoras passivas, mas participam ativamente do movimento através da colaboração e compartilhamento e ideias.

Entretanto, a desigualdade social ainda é enorme no Brasil e, como consequência, mulheres majoritariamente negras, analfabetas e da periferia não têm acesso à internet. Pois, as barreiras sociais e econômicas impedem que o ciberfeminismo cheguem até elas. Logo, a importância da militância feminista na cidade física está em descentralizar o movimento da academia e ir de encontro às mulheres que não são alfabetizadas, não possuem graduações. Só possuem o desejo de serem livres.


REFERÊNCIAS
SANTAELLA, Lúcia. Navegar no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo, Paulos, 2004.
LÉVY, Pierre. Cibercultura.(Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 2009.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Da série: racismo existe

Dany Braga em campanha para a Riachuelo

A nova coleção primavera/verão da Riachuelo é inspirada no Marrocos, país localizado no extremo noroeste da África. Até então tudo bem. Nada novo sob o sol. Mas, a loja não se atentou aos detalhes contidos na fotografia que postou no seu perfil do Instagram para divulgar a coleção: a modelo embranquecida, com lentes azuis e um turbante que não faz parte das roupas típicas que usam no Marrocos, mas sim de países da costa oeste e sul do continente africano.

Dany Braga com sua cor natural e sem lentes azuis

O tiro no pé que a Riachuelo deu, foi certeiro. Minutos após a publicação da imagem, mulheres negras comentaram explicando o porquê de repudiarem a imagem. Coisas que nem precisariam ser explicadas, caso os publicitários contratados pela loja pesquisassem sobre a cultura africana corretamente.

A apropriação cultural há alguns meses atrás, não passava de besteira para mim, mas ao começar estudar sobre o assunto, pude perceber que a cultura negra está sendo apropriada e não é com boas intenções. A cultura afro é marginalizada desde sempre. Professores se recusam a ensiná-la nas escolas, pois afirmam que é coisa do diabo.

Mas, então, por que usar turbante pode? Por que trançar um cabelo liso pode? Por que encrespar um cabelo naturalmente liso pode? O turbante, assim como outros artigos, faz parte da cultura negra e é considerado um símbolo de resistência, pois as escravas eram proibidas de mostrar seus cabelos “ruins”. Os brancos não mereciam ver negras com seus cabelos crespos. Era uma afronta. Mas, a moda que diz que o padrão de beleza é branco, se apropria de um símbolo de resistência da cultura negra e vira tendência.

A partir do momento que um determinado objeto é inserido na moda vigente, ele vende. Gera lucros e empresas - as mesmas que rejeitam negros nas entrevistas de emprego - crescem. A apropriação cultural, que chamam de moda e homenagem, vai muito além do uso ou não turbante por uma mulher branca. É questão de conscientização. Basta se questionar: por que numa pessoa negra o turbante é "coisa de macumbeiro" e numa pessoa branca é moda?

"Homenagem" da grife Adriana Degreas no SPFW 2012

Moda passa. A resistência em ser negro persiste. Homenagear a cultura afro se apropriando de símbolos não é homenagem. Soa apenas como ironia. Nada além de ironia. O sofrimento do negro escravo e o sofrimento do negro que, ainda hoje, vive à margem da sociedade e sofre racismo todos os dias, não se resolve com homenagem, mas sim com respeito.


quinta-feira, 11 de junho de 2015

E a culpa ainda, infelizmente, é da vítima

Geysi Arruda com o vestido que usou para ir à aula na faculdade

A aula de ontem (10) poderia ser apenas mais uma, mas não foi. Pois, uma professora convidada foi nos ensinar alguns mecanismos úteis para a interpretação de textos em provas do Enade, ENEM e de concursos. E, logo em seguida, nos explicou sobre ética, moral e cidadania.

Seria apenas mais uma aula, se os discursos machistas que eu e algumas colegas fomos obrigadas a ouvir passassem despercebidos. Mas não passaram. O primeiro que logo me chamou atenção foi quando ela disse que, mulheres que não têm um grau de cultura elevado são as que cometem aborto no Brasil. Como assim? Ricas também abortam, no entanto, a diferença é que elas podem pagar por abortos seguros e não entram para a estatística de mulheres mortas em decorrência de abortos clandestinos.

Mas não parou por aí, logo depois ela deu um exemplo do que é ética. Segundo ela, é ético não irmos com roupas “que chamem muita atenção” para a faculdade, pois poderemos atrapalhar a aula tirando a atenção dos homens e ainda deu o seguinte exemplo: uma aluna chega à aula do curso de enfermagem, linda e maravilhosa, os seus colegas homens-cis-héteros-machistas começam a assediá-la e a professora (a mesma da minha aula) pede para a aluna se retirar da sala e ir trocar de roupa. Para, enfim, dar continuidade ao assunto, pois os seus alunos não estavam se concentrando.

Como se não fosse ainda o suficiente, ela nos disse que informou à aluna que ela não era Geysi Arruda para chamar a atenção da sala e atrapalhar a aula. Logo, ela ainda deixou implícito que acredita que a Geysi e todas as mulheres que são assediadas são culpadas, pois poderiam evitar tudo isso caso se vestissem adequadamente e não despertassem o "instinto masculino" que é praticamente incontrolável, porque homens são assim. ~ironia~

Senti-me impotente, pois eu não tinha como interromper a aula e dizer à professora que tudo aquilo não passava de discursos machistas, que os homens utilizam para nos manipularem e nos reprimirem. Senti-me impotente, pois não pude dizer à ela que somos livres e que os homens devem nos respeitar. 

sábado, 6 de junho de 2015

Família é quem a gente escolhe para amar


Sobre a família "tradicional" brasileira: nunca tive. Não, meus pais não são separados. No entanto, desde pequena assisto às brigas e mais brigas por causa das diversas traições do meu pai. Minha avó paterna nunca foi casada, pois ela sempre foi a amante. Tenho tios que sequer sabem o nome do pai. Tenho avó que já foi traída. Casou de novo e foi traída novamente.

Incomoda-me essa história de a família ser apenas a junção de um homem e uma mulher, pois eu cresci vendo o diferente dessa afirmação: Vi minhas tias criarem os filhos sozinhas. Vi primas serem abandonadas pelo pai. Vi tio que não assumiu a filha. Então, de onde esses deputados tiraram esse conto de fadas, de que a família só é formada por homem e mulher?

Não acredito no conceito de família ser baseado exclusivamente na união de um homem e uma mulher. Acredito no amor. Acredito em pessoas que podem criar crianças com dignidade, amor e respeito. Acredito que adotar ou decidir engravidar é um ato de amor. Amor é algo sobrenatural que transcende qualquer denotação num dicionário. Por isso, a família não tem como ser definida por um estatuto.

Em anos de aprendizado baseado no cristianismo e com a inserção no feminismo, adquiri conhecimentos e desconstruí diversos preconceitos. Aprendi que “família é quem a gente escolhe pra viver”, como diz a música da banda O Rappa. Por isso, amar deveria ser a única exigência para poder constituir uma família.