Há ainda quem acredite
que ser feminista é sinônimo de ter decorado cada palavra que existe no livro O
Segundo Sexo, da feminista e filósofa francesa, Simone Beauvior. No entanto, há
quem discorde disto. Até porque ninguém tem obrigação de ler livros e artigos
acadêmicos sobre o feminismo para se reconhecer como uma feminista. Pois, hoje,
há um enorme campo de informações, que são possíveis de serem encontradas on-line.
Logo, não se faz
necessário ler diversos livros sobre teorias feministas para se tornar uma
feminista e então acreditar na igualdade política, social e econômica entre
homens e mulheres.
Desmerecer um movimento,
que graças à internet, alcança milhares de mulheres todos os dias, não é uma
estratégia inteligente. Pois, os diversos sites e comunidades de militância
feministas, que existem são chamadas de cibercidades que, dentro da
comunicação, são a transposição das cidades reais para o ambiente virtual. Logo,
os movimentos sociais que atuam no mundo virtual são tão válidos quantos os que
atuam nas cidades físicas.
Para entender como
funciona o processo de troca de informações e a militância na internet, é
necessário entendermos alguns termos, entre eles: cibercidade, cibercultura e a
interatividade.
O filósofo francês,
Pierre Lévy (1999) define o termo ciberespaço não apenas como a infraestrutura
material da comunicação, mas também como o universo oceânico de informação que
ela abriga. Desta forma, o ciberespaço funciona como uma transposição da vida
social contemporânea, que são reestruturações do mundo real para a o ambiente
virtual.
A emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento
social, com seu grupo líder (a juventude metropolitana escolarizada), suas
palavras de ordem (interconexão, criação de comunidades virtuais, inteligência
coletiva) e suas aspirações coerentes (LÉVY, 1999, p.123)
Pois, da mesma forma que
há movimentos feministas nas cidades físicas, das mais variadas vertentes, no
campo digital, há também blogs, comunidades e grupos de discussões feministas.
Já a cibercultura pode
ser definida como características de determinados grupos dentro do ciberespaço,
onde tais movimentos se agrupam conforme os interesses, que os indivíduos que o
compõem possuem em comum. “Quanto ao neologismo "cibercultura",
especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas,
de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente
com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 1999, p. 11).
Para explicar a
interatividade é necessário, antes de tudo, defini-la. E, de acordo com a sua
definição mais simples, encontrada no dicionário Aurélio, a interatividade é a
capacidade que um sistema operacional ou máquina possui de permitir interação
ou até mesmo ser interagido.
Para Pierre Lévy (1999)
o que melhor descreve a interatividade é a possibilidade, crescente com a
evolução dos dispositivos técnicos, de transformar os envolvidos na
comunicação, ao mesmo tempo, em emissores e receptores da mensagem.
Com a popularização dos computadores, notebooks e smartphones entre
a sociedade, se torna possível participar da militância feminista no ambiente
virtual, sejam com opiniões divergentes, com acréscimo ou até mesmo novas
informações.
Nesse novo contexto, o emissor não emite mais mensagens, mas
constrói um sistema com rotas de navegação e conexões. A mensagem passa a ser
um programa interativo que se define pela maneira como é consultado, de modo
que a mensagem se modifica pela medida em que atende às solicitações daquele
que manipula o programa. (SANTAELLA, 2004, p. 163)
A interatividade nas
redes é regida pelo principio de que é possível ser mutável, efêmero,
colaborador e não apenas espectador, como explica Santaella (2004, p.166).
Logo, o ciberfeminismo, transposto para o ambiente virtual possui o mesmo
valor, que o feminismo que milita nas cidades físicas. As mulheres que militam
virtualmente não são apenas espectadoras passivas, mas participam ativamente do
movimento através da colaboração e compartilhamento e ideias.
Entretanto, a
desigualdade social ainda é enorme no Brasil e, como consequência, mulheres
majoritariamente negras, analfabetas e da periferia não têm acesso à internet.
Pois, as barreiras sociais e econômicas impedem que o ciberfeminismo cheguem
até elas. Logo, a importância da militância feminista na cidade física está em
descentralizar o movimento da academia e ir de encontro às mulheres que não são
alfabetizadas, não possuem graduações. Só possuem o desejo de serem livres.
REFERÊNCIAS
SANTAELLA, Lúcia. Navegar
no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo, Paulos,
2004.
LÉVY, Pierre. Cibercultura.(Trad.
Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 2009.