quarta-feira, 15 de abril de 2015

Eu sou Verônica

#SomosTodasVerônica

Ontem eu vi uma foto da Verônica Bolina, que não postarei aqui, pois acho desnecessário, travesti que foi espancada e desfigurada por policiais de São Paulo sem nenhuma explicação válida até o momento. Eu me choquei com a imagem, mesmo sem saber que ela havia cometido um crime. Chocou-me o fato de terem a exposto nua, desfigurada e com a cabeça raspada como se fosse um troféu da polícia, como se aquela imagem fosse prova do bom serviço que eles têm prestado a toda a população.

Não basta ser negra, não basta ser travesti, não basta estar à margem da sociedade por conta da sua identidade de gênero. Não, é necessário que ao ser presa, a mesma seja colocada numa cela cheia de homens heterossexuais, exposta a todo e qualquer tipo de violência sexual. Tem que ter o cabelo raspado e a intimidade exposta para todo o Brasil e mundo. 

Será que é tão difícil entender que aquele ser é um SER HUMANO? Acredito que não...

Antes que algum leitor ou leitora ache que eu estou defendendo uma criminosa, deixarei uma coisa bem clara: direitos humanos são direitos que toda e qualquer pessoa tem direito. Aí alguns dirão: “Ah, mas ela bateu numa idosa.”. Eu respondo: No JORNALISMO e no DIREITO ninguém é culpado até que se prove o contrário, por isso, nem adianta vir com esse tipo de conversa que não cola comigo. E outra, até agora eu não vi nenhum depoimento da idosa ou de parentes da mesma acusando a Verônica do crime de agressão.

Ainda existe outro fato interessante sobre o caso: o G1 publicou uma matéria com apenas a versão da polícia, sem fala de nenhum parente da Verônica ou advogados e ainda a trataram com o pronome masculino. Na boa, será que eu preciso explicar a diferença de um homem cisgênero para uma mulher travesti/transexual a um jornalista de um portal da Globo? Sério mesmo? Eu realmente espero que não!


Pois, ao usarem um portal de alcance nacional e mundial para veicularem uma notícia que só fere os direitos individuais de uma pessoa transgênero, a Globo e o seu portal G1, conseguem prestar um enorme desserviço a toda parcela LGBT no Brasil. É como se gritassem que de nada vale a luta dos gays, lésbicas, transexuais e travestis no Brasil. Ao utilizarem um pronome masculino para se referirem a uma pessoa que não se identifica com o gênero, é ajudar explicitamente a perpetuação da intolerância e desrespeito para com os que são “diferentes” do que se é aceito nesta sociedade machista, homofóbica e transfóbica. 


"A mídia demonstra ser “violenta” ao veicular informações superficiais, com carência de substancialidade; nas notícias de variedades, nos talk shows; nos programas de auditório; nos programas de cunho investigativo, que buscam única e exclusivamente a audiência sob o véu falacioso da justiça, do ajudar pessoas. Submetida ao lucro e à audiência, a mídia promove um sensacionalismo implícito ou explícito. Porém presente. Sempre presente. Nessa realidade, a informação que lança mão de aspectos de natureza sensacionalista promove a “violência”." (CRUZ, Fábio Souza, 2004, p. 4-5)

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